Anos de negociação
O governo uruguaio espera realizar este ano o primeiro embarque de soja não transgênica para a China, uma ideia que já leva alguns anos de negociação.
Em 2016, o governo uruguaio iniciou uma série de “fortes diálogos com a China” sobre soja não transgênica, lembra Federico Montes, diretor geral de Serviços Agrícolas do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai (MGAP).
No ano seguinte, a China enviou ao Uruguai cinco variedades de soja não transgênica para que fossem estudadas pelo Instituto Nacional de Pesquisa Agropecuária (INIA). O objetivo era vender essas espécies após uma análise de qualidade, níveis de proteína e óleo.
A China utiliza soja não transgênica para consumo humano, mas até o momento não a compra do Uruguai. Contudo, isso pode mudar em alguns meses, anuncia Enzo Benech, ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai.
“O Uruguai pode ser um exportador confiável de soja para consumo humano para a China, oferecendo diversas garantias. É uma oportunidade para o país”, afirmou Montes em entrevista ao Diálogo Chino.
Pagando mais pelo diferencial
Tomo ocupa um território menor que Argentina, Paraguai e Brasil, o Uruguai não pode posicionar-se como produtor de grande escala no mercado. O objetivo do governo uruguaio, portanto, é alcançar uma produção pequena, mas diferenciada.
Nesse sentido, Sergio Ceretta, diretor do Programa de Cultivo de Sequeiros do INIA, afirma: “Estamos enfatizando a qualidade do grão e suas características. Queremos mirar no mercado de soja para alimentação humana direta da China, para além do que hoje em dia vendemos aos chineses.”
Há hoje certos mercados dispostos a pagar mais em função do modo de produção. É por isso que o Uruguai está “tentando captar esses sinais do mercado e produzir cultivos pelos quais o resto mundo está disposto a pagar um pouco mais”, conta Benech.
No caso do mercado chinês, a produção de soja não transgênica é uma tentativa do Uruguai de “explorar um mercado que pode pagar mais” por esse diferencial, estima Ceretta. De qualquer maneira, o preço ainda é incerto porque não há referências de mercado como tem a soja geneticamente modificada.
Vespas, soja e agrotóxicos
Um grupo de pesquisadores e produtores está em busca desse mercado que pode pagar mais. Com o objetivo de diminuir o uso de agroquímicos, eles estão introduzindo insetos, chamados controladores biológicos, para conter o avanço de pragas no cultivo da soja.
O Uruguai já tem casos de uso desses controladores biológicos desde o início do século XX, quando o país começou a trazer do exterior insetos para combater pragas agrícolas—algumas também trazidas de fora—de maneira controlada para não alterar o ecossistema.
Contudo, com o surgimento dos inseticidas químicos nos anos 1940, interrompeu-se o desenvolvimento da estratégia de controle de pragas com inimigos naturais. De lá para cá, houve apenas algumas experiências ocasionais.
O ano em que agrotóxicos foram introduzidos no Uruguai.
César Basso, professor da Universidade da República do Uruguai, investigou em seu doutorado a possibilidade de utilizar uma pequena vespa de menos de meio milímitro para controlar a traça, um inseto cuja lavra afeta o cultivo de cana. É essa mesma vespa que hoje se utiliza para a produção de soja.