Florestas

Incêndios florestais ameaçam redução das emissões brasileiras

Queimadas estão 57% acima do registrado e podem piorar
<p>Incêndios ameaçam redução das emissões (imagem: <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Seca_e_queimada_no_cerrado_03.jpg" target="_blank" rel="noopener">José Cruz/ABr </a>)</p>

Incêndios ameaçam redução das emissões (imagem: José Cruz/ABr )

As queimadas em toda a Amazônia devem bater um novo recorde histórico até outubro, alerta o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A situação de risco elevado preocupa também a agência americana Nasa, que chamou a atenção para o panorama atual em seu serviço Observatório da Terra.

“Temos o maior valor da série por enquanto. Se o uso do fogo continuar da maneira que está, provavelmente bateremos o recorde histórico”, afirmou ao Diálogo Chino Alberto Setzer, coordenador do monitoramento de queimadas do INPE.

Até agora, o número de casos em todo o país está 57% acima do registrado no mesmo período do ano passado. “Mas ainda é muito pouco perto do que pode acontecer”, adiciona Setzer, lembrando que a temporada de incêndios se intensifica a partir de julho e segue até outubro.

Em outros países da América Latina, a tendência é ainda mais acentuada: na Bolívia, por exemplo, o aumento de focos de incêndio é de 355%; no Peru é de 110%.

Emissões perigosas

Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA), o Brasil está entre os países que mais queimam no mundo atualmente, com uma média histórica de 169 mil focos de calor por ano.

“Essa quantidade de incêndios florestais faz com que o Brasil seja um dos maiores emissores de gases do efeito estufa, repercutindo diretamente nas metas traçadas internacionalmente de redução de emissões”, pontua Gabriel Zacharias, coordenador do programa de prevenção e combate aos incêndios florestais do IBAMA.

Com essa provável área recorde de floresta em combustão, as emissões de CO2 no país podem aumentar, destaca Gilvan Sampaio, pesquisador do grupo de Mudanças Climáticas do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC). “Como já sabemos dessa condição, se não forem adotadas políticas públicas para minimizar e prevenir as queimadas no Brasil, a gente tem esse potencial de queimadas bem acima da média com mais emissões para a atmosfera”.

Quando há uma queimada, além da liberação de gás carbônico (CO2), são liberados também gases-traço como metano (CH4), monóxido de carbono (CO) e óxido nitroso (N2O).

O fogo, que consome principalmente o Cerrado (36,9%) e a Amazônia (33,6%), é proposital, provocado por ações humanas. “As ocorrências são de queimadas proibidas pela legislação. Se as autoridades controlarem, isso vai diminuir muito”, comenta Alberto Setzer.

Na Amazônia, o número de focos de queimadas não seguiu a tendência do desmatamento, que caiu 70% na última década, observa o pesquisador Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP). “Isso pode ser um indicativo de que houve aumento da frequência de manutenção por queimadas de pastos já abertos na Amazônia.”

Artaxo defende que a solução inclui formulação de políticas públicas por parte do governo federal. “O foco sempre foi no combate ao desmatamento. Mas é preciso também ações para inibir queimadas, mesmo em áreas já desmatadas, que têm um efeito devastador no ecossistema, na saúde das pessoas, afeta a incidência de chuvas na região”, critica.

Efeitos do El Niño

O perigo ainda é em decorrência da manifestação do ano passado do El Niño, fenômeno climático que se caracteriza pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico na região do Equador. Por causa do El Niño, o volume de chuva na região caiu consideravelmente e deixou a bacia Amazônica mais seca.

Segundo as previsões, o risco de incêndios florestais é maior que o registrado em 2005 e 2010 – anos em que o fogo consumiu áreas recordes de mata. “Tivemos um El Niño forte agora. Além disso, a gente vem observando um déficit de chuva já há bastante tempo. Esses fatores combinados é que levaram a esse quadro atual”, explica Sampaio.

Consequentemente, a vegetação e o solo estão muito secos, o que torna as queimadas mais incontroláveis. Outro impacto já pode ser visto no nível dos rios na região Amazônica, que podem chegar aos menores índices já registrados.

O caso do estado do Acre chama a atenção dos pesquisadores: embora não sofra os efeitos do El Niño, o estado registra baixa reserva de água principalmente no rio Acre, que deve baixar ainda mais. “Esse caso mostra que a região está sofrendo com pouca chuva já há tempos”, diz Sampaio.

Áreas de conservação

Oito satélites equipados com sensores termais observam o território e ajudam os pesquisadores do INPE a lançarem os alertas. Alberto Setzer ressalta uma questão preocupante: pelo menos 172 áreas de conservação estão sendo consumidas pelo fogo atualmente.

“São áreas que deveriam ser particularmente bem protegidas, onde o fogo não deveria ocorrer. E há casos de fogo descontrolado no seu interior”, afirma o cientista. O Parque Nacional do Araguaia, por exemplo, queima há semanas.

Paralelamente ao INPE, o serviço de previsão de queimadas da Nasa foi criado em 2011 com ajuda de pesquisadores brasileiros. Além do Brasil, o time da agência quer estender a cobertura de previsão de incêndios para a região da América Central e Sudeste Asiático.