Natureza

Tsunami de lama acaba com vilarejo brasileiro

Rompimento de barragens de desejo mineral provoca avalanche de lama

Um tsunami de lama com ondas de mais de dois metros devastou o vilarejo brasileiro de Bento Rodrigues, no município da histórica cidade de Mariana (Brasil), quando duas barragens da mineradora Samarco se romperam na última quinta-feira. A destruição foi tão grande que ainda não se sabe quantas pessoas morreram e quantas estão desparecidas. Casas estão soterradas, carros foram parar sobre telhados, animais e árvores arrastados por quilômetros. Os bombeiros resgataram 530 pessoas que tinham ficado ilhadas depois que retroescavadeiras abriram passagem no meio da lama. As equipes de resgate não param de trabalhar. O acesso ao local é muito difícil por causa da lama. Até o momento, uma morte foi confirmada apesar de entre 25 e 30 trabalhadores estarem no local na hora do desastre. Cerca de 600 famílias moravam na localidade onde havia umas 200 casas. A prefeitura do local estima que duas mil pessoas tenham sido afetadas pelo acidente. Os sobreviventes foram levados para um ginásio de esporte no município vizinho onde recebem abrigo, alimento e roupa. A Samarco, que explora minério de ferro na região, é uma joint-venture entre a mineradora brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton. Hoje, a Samarco informou não existir perigo de contaminação porque os dejetos seriam formados basicamente por areia. Porém, as pessoas resgatadas estão sendo orientadas pela própria empresa a tomarem banho com água e sabão. E mais de 60 quilômetros de plantações foram removidos e a lama já atingiu outros municípios e rios da redondeza. Segundo disse ao G1 o geólogo Luiz Paniago Neves, do Departamento Nacional de Produção Mineral – responsável pela fiscalização das minas -, mesmo que o ferro vaze “o rejeito de minério de ferro é inofensivo”. O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ricardo Mota Pinto Coelho, discorda. Segundo disse ele à rádio CBN, qualquer rejeito de ferro tem contaminação por metais pesado, mesmo que pequena. O observatório sismológico da Universidade de Brasília registrou pequenos abalos sismológicos naquela região pouco antes do acidente, mas as autoridades ainda consideram cedo para apontar esta como a causa do rompimento das barragens. De acordo com o presidente da mineradora, Ricardo Vescovi, a força do rompimento da primeira barragem teria provocado o da segunda. Mas que somente as apurações vão revelar as razões do rompimento da primeira barragem. Quase todo o minério extraído da mina de Bento Rodrigues é levado por minerodutos até um porto da empresa, no Espírito Santo, de onde o produto é exportado. A Samarco produziu 10,7 milhões de toneladas de pelotas (bolas produzidas de concentrados de minérios de ferro de diferentes composições químicas e mineralógicas), de janeiro a setembro. Além de aumentar a produtividade das siderúrgicas, as pelotas reduzem as produções de gases de efeito estufa na produção do aço. Esse é um dos motivos pelos quais a China tem tanto interesse no produto. Os chineses são um dos grandes investidores da Vale, uma das maiores mineradoras do mundo. A empresa produziu 35,8 milhões de toneladas de pelotas de janeiro a setembro, sem contar com a produção da Samarco. A China é a principal compradora de minério de ferro da empresa e ainda fornece navios para o transporte dos minérios para os chineses. Um dia após o ocorrido, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, manifestou-se através de nota lamentando o “acidente” e afirmando que “não mediremos esforços” para apoiar sua empresa e as autoridades “neste triste momento” para os funcionários, seus familiares e as comunidades vizinhas à mina.