Em vez disso, o TransMilenio, o sistema de transporte público da cidade, decidiu apostar nos ônibus a diesel e a gás natural. A escolha demonstrou como a explosão da tecnologia de transporte a energia elétrica liderada por fabricantes chineses ainda precisa superar as barreiras econômicas, tecnológicas e, inclusive, de percepção, para converter-se em uma opção atrativa nas grandes metrópoles, como as da América Latina.
Mas, ao mesmo tempo, as grandes cidades latino-americanas buscam desesperadamente opções mais verdes, à medida que a poluição e a qualidade do ar se tornam questões políticas sensíveis para seus cidadãos.
A decisão de Bogotá
Na sexta-feira passada, Bogotá anunciou as empresas ganhadoras da licitação para renovar a frota de 1.160 ônibus do TransMilenio, que circulará na próxima década.
Em meio a grandes expectativas e muita tensão política, o sistema de ônibus de trânsito rápido (mais conhecido pela sua sigla inglês BRT, ou bus rapid transit) escolheu dois operadores de diesel e três de gás como os ganhadores de uma licitação que a cidade havia protelado durante mais de sete anos.
Apesar da pressão de muitos setores, nenhum dos ônibus que circularão em janeiro de 2019 será elétrico. A empresa chinesa BYD, que era a única a oferecer o serviço, assistiu à licitação – de 260 ônibus – ser encerrada sem que houvesse vencedor, pelo menos até o momento.
A notícia gerou controvérsia em diferentes setores políticos, muitos dos quais insistem que não se justifica que Bogotá opte por tecnologias a base de combustíveis fósseis em vez de limpas.
“Pensar que passar de um diesel a outro diesel ou ao gás é um grande avanço, quando existem opções de ônibus elétricos, é de uma cegueira intelectual e política enorme para um cidadão ou líder na era das mudanças climáticas”, disse Claudia López, ex-candidata a vice-presidente de centro, em tom impaciente.
“Gravíssima notícia para nossos filhos e avós, que vão continuar adoecendo com as partículas que emitem”, disse o senador de direita, Rodrigo Lara.
O assunto voltou ao centro de um ácido debate político, em uma cidade cuja população deixou de estar satisfeita com um sistema inovador de transporte público que descongestionou a cidade, para condená-lo ferozmente quando esse mesmo sistema provou ser incapaz de atender à demanda de seus oito milhões de habitantes.
O vaivém da opinião pública é, ao mesmo tempo, um espelho dos índices de aprovação do atual prefeito, Enrique Peñalosa. Ele foi considerado pioneiro quando instaurou o TransMilenio há 18 anos – e se transformou em vitrine do BRT para o mundo. Mas hoje amarga impopularidade.