Opinião: Lacalle Pou incentiva nova agenda azul no Uruguai

A comercialização da natureza é um problema no Uruguai, mas os primeiros sinais do novo governo são promissores
<p>Um farol em José Ignacio, perto de Punta del Este, na costa atlântica do Uruguai. O novo governo uruguaio já está interagindo com ONGs na conservação dos oceanos (imagem Alamy)</p>

Um farol em José Ignacio, perto de Punta del Este, na costa atlântica do Uruguai. O novo governo uruguaio já está interagindo com ONGs na conservação dos oceanos (imagem Alamy)

O novo presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, assumiu há poucas semanas, ressaltando em seu discurso inaugural a importância de “não evitar” questões relativas ao meio ambiente.

Lacalle Pou terá que lidar com uma intensa agenda herdada do governo anterior, como já se mencionou em artigo publicado no Diálogo Chino. Essa agenda inclui temas sociais, econômicos e, sobretudo, ambientais. Além disso, há a pandemia do coronavírus, que impõe desafios a todo o mundo.

Apesar dessa situação, o novo presidente mostrou uma visão e compromisso em relação à temática ambiental e principalmente oceânica, o que ficou claro com a proposta de criar um Ministério do Meio Ambiente e Águas, que deverá ser aprovado pelo parlamento.

O modelo produtivo de agropecuária intensiva, que estimulou a economia deste pequeno país latino-americano, causou graves consequências ambientais ao longo da história. Esses efeitos se agravaram nos últimos anos, com a destruição de florestas nativas e a contaminação de bacias e rios com fertilizantes.

Além disso, a redução do oxigênio na água, causada pela saturação de algas que se multiplicam com o excesso de nutrientes, é uma realidade agravada da qual pouco se fala e que afeta a biodiversidade do estuário, as costas e o oceano. A isso se soma a proliferação de cianobactérias durante o verão desde 2018.

O Uruguai é um país eminentemente aquático desde que ampliou seu solo marinho a 350 milhas náuticas. Contudo, a cultura oceânica não existe no país, e o cidadão desconhece essa realidade, assim como vida submarina. A isso se soma uma frota de barcos pesqueiros industriais em crise, com apenas 30 deles em operação (um quinto da frota que o país já chegou a possuir).

Uma agenda azul

A organização uruguaia Oceanosanos, que promove a conservação dos oceanos, apresentou a Lacalle Pou em janeiro uma “agenda azul oceânica”, com a qual propõe avançar na criação de reservas marinhas offshore, que ocupariam cerca de 30% da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do Uruguai.

O Uruguai se comprometeu com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, prometendo ter até 2020 10% da ZEE ocupadas por Áreas Marinhas Protegidas. No entanto, até agora esse compromisso não foi alcançado.

“Essas são as reuniões de que eu gosto”, afirmou Lacalle Pou no começo do encontro. Ao longo da reunião, que durou cerca de uma hora, o novo presidente demonstrou interesse na proposta e afirmou que os representantes da Oceanosanos haviam “alegrado o dia” ao afirmar que existem recifes de coral na reserva marinha proposta. Há poucos casos anteriores de presidentes com tal afinidade e compromisso com os oceanos.

Durante sua campanha para presidente, em 2019, Lacalle Pou participou da 1a Conferência dos Oceanos no Uruguai, onde se comprometeu com a causa. Agora, como presidente recém-eleito, Lacalle Pou nomeou novos diretores de meio ambiente e recursos aquáticos alinhados com seu compromisso.

O porto de Montevidéu é um dos maiores do mundo em descargas de pesca ilegal, não declarada e não regulamentada proveniente do Atlântico Sul. Há, contudo, possibilidade de reverter essa situação com o novo governo. Serão desenvolvidas novas medidas de controle e fiscalização efetivas, buscando aumentar a transparência da pesca.

Há otimismo em sonhar com um oceano sadio e um meio ambiente saudável para os uruguaios. Esta pode ser, então, uma oportunidade histórica para um governo ambiental e oceânico no país.