“Os Brics foram um ambiente de importante interlocução política”, disse Teixeira ao Diálogo Chino. “Foi um momento super interessante de construção de confiança. Existia uma informalidade na conversa entre os ministros”. O papel diplomático do grupo, acrescenta Teixeira, “foi absolutamente importante” nas negociações que iriam mais tarde culminar com o Acordo de Paris em 2015.
Foi a partir daí, no entanto, que especialistas enxergam o início do esvaziamento dos Brics, à medida que crises econômicas e políticas sobrecarregaram os países-membros. O bloco vivenciou a recessão de Rússia, África do Sul e Brasil, as tensões entre China e Índia e a retórica beligerante anti-China do presidente Jair Bolsonaro — além da guinada do Brasil na desconstrução de políticas ambientais e em seu isolamento diplomático.
“O país entrou na contramão do mundo”, resumiu Izabella Teixeira.
Brics mantém relevância
Mesmo sem o brilho dos anos de glória, os Brics mantêm sua relevância hoje, segundo Costa Vazquez. “Os Brics são o único espaço que as maiores economias emergentes do mundo possuem para coordenar posições e propor iniciativas de interesse comum aos cinco membros. Isso não é pouco em se tratando de mais de 30% do PIB mundial”, disse.
Vazquez argumenta que, para funcionar, o multilateralismo do bloco foi dando lugar a mais acordos bilaterais. Dessa forma, há mais flexibilidade para limitar a cooperação quando os interesses divergem e ampliá-la quando convergem.
Você sabia?
Não existe um estatuto formal de regras nos Brics, e o grupo não funciona como um bloco econômico.
Como os Brics não funcionam como um bloco econômico, não existe um estatuto formal de regras que direcione seu comportamento. Ou seja, o custo de ser membro é baixo, e o benefício diplomático que isso gera ainda é expressivo, segundo Oliver Stuenkel, da Fundação Getulio Vargas.
Relações diplomáticas mais fortes também podem refletir no crescimento do comércio bilateral. Por exemplo, as trocas entre Brasil e China devem bater novo recorde em 2021. Ano passado, o comércio bilateral atingiu US$ 101 bilhões pela primeira vez. Até agosto deste ano, o valor já superava os US$ 93 bilhões.
Não à toa, Bolsonaro adotou um tom mais ameno sobre a China na recente cúpula dos Brics. Enquanto isto, o presidente chinês Xi Jinping disse que, independentemente das dificuldades, os Brics manterão uma cooperação sólida e constante.
NBD traz esperança aos Brics
Apesar de poucas novas articulações em áreas históricas de cooperação como o clima, o principal produto do BRICS, o NBD, está ganhando força. Paulo Nogueira Batista Júnior, economista e vice-presidente do banco entre 2015 e 2017, foi um crítico à lentidão do NBD em produzir resultados e cumprir com suas aspirações de se tornar um banco global.
Hoje, no entanto, Batista Júnior enxerga avanços: “Nos últimos dois anos, o banco parece ter se movimentado um pouco mais e alcançou resultados”, disse. “Ele aprovou projetos, inclusive programas de apoio de combate à Covid-19, continua contratando funcionários, constituindo a sua sede, se desenvolvendo tecnicamente e inaugurou o processo de abertura de novos membros”.
É um banco que já faz parte da paisagem
No início de setembro, o NBD anunciou a inclusão de Uruguai, Emirados Árabes e Bangladesh como membros. Em seis anos de operação, aprovou cerca de 80 projetos, com investimentos de US$ 30 bilhões. Para o combate à Covid-19, o banco liberou US$ 10 bilhões aos países-membros dos Brics.
“É um banco que já faz parte da paisagem”, disse Batista Júnior. Seria o mesmo caso dos Brics?