Energia

Mapeamento das energias renováveis da América Latina

Novo mapa interativo de Diálogo Chino mostra usinas de energias renováveis da América Latina, com exceção de hidrelétricas, enquanto países embarcam na transição energética
<p>Painéis solares no deserto do Atacama. O Chile é um dos países latino-americanos que lideram a transição para fontes de energia com emissões zero (Imagem: Alamy)</p>

Painéis solares no deserto do Atacama. O Chile é um dos países latino-americanos que lideram a transição para fontes de energia com emissões zero (Imagem: Alamy)

O investimento na produção de combustíveis fósseis e energia a carvão precisa terminar este ano se o setor energético global quiser zerar as emissões de CO2 até 2050, argumentou um relatório recente da Agência Internacional de Energia (AIE). Um setor energético líquido zero é viável, mas requer uma “transformação sem precedentes” na forma como a energia é produzida, segundo a AIE.

Essa transição energética global recebeu um grande impulso em 21 de setembro, quando a China, o último grande financiador público da energia a carvão no exterior, se comprometeu a cortar esse apoio. Ao discursar na Assembleia Geral da ONU em Nova York, o presidente da China, Xi Jinping, também prometeu apoio aos países emergentes na busca de um desenvolvimento com baixo teor de carbono.

Embora mais lenta do que outras regiões em desenvolvimento, a transição energética da América Latina está em curso, com as energias renováveis não convencionais — solar, eólica e geotérmica —  aumentando sua participação na matriz energética dos países.

É técnica e economicamente viável aumentar a escala da energia renovável na América Latina

Chile, Uruguai e Costa Rica têm investido fortemente em energias renováveis não convencionais nos últimos anos. Ainda assim, afastar-se dos combustíveis fósseis é um desafio para uma região que obtém 75% de sua energia primária de fontes não-renováveis.

Com a região precisando acelerar a transição de energia limpa e atrair apoio financeiro para seus esforços, o Diálogo Chino apresenta um mapa interativo inédito que traça todos os projetos de energia eólica, solar e geotérmica da América Latina, detalhando sua capacidade energética instalada, status operacional e de propriedade.


A energia hidrelétrica, uma importante fonte de energia para muitos países, não está incluída no conjunto de dados. Embora considerada uma fonte renovável por muitos, a energia hidrelétrica está frequentemente associada a impactos adversos sobre as pessoas e a biodiversidade, muitas vezes envolvendo o desmatamento em larga escala e o deslocamento de comunidades que preservam as florestas. Além disso, seus custos de construção tipicamente acima do previsto e as mudanças nos padrões pluviométricos significam que tanto sua confiabilidade de longo prazo como fonte de energia quanto sua capacidade de retorno dos investimentos não são garantidos.

Parâmetros do mapa

Para Brasil e México, fixamos a capacidade mínima instalada para a inclusão de um projeto no conjunto de dados em 50MW, devido ao grande número de projetos menores

Os dados, que foram compilados através do cruzamento de informações de fontes estatais, empresas e indústrias operacionais e comunicados de imprensa, destinam-se a servir como ponto de referência para aqueles que buscam compreender o progresso dos países latino-americanos na transição para a energia limpa. As informações sobre locais, financiadores e fontes de energia ajudam a construir uma imagem mais clara dos principais motores por trás dessa tendência.

Transição de energias renováveis na América Latina

Nosso mapa apresenta 850 plantas de energia renovável, com exceção das hidrelétricas, em 24 países da América Latina e Caribe, para os quais pudemos coletar dados. Para Brasil e México, fixamos a capacidade mínima instalada para a inclusão de um projeto no conjunto de dados em 50MW, devido ao grande número de projetos menores. Do total, a energia solar representa 49%, enquanto 46% são eólicas. Mais de três quartos dos projetos são de propriedade de empresas privadas. O Chile representa quase um quarto de todos os projetos em nosso mapa (24%), seguido por Brasil (21%), México (14%) e Argentina (9%).

Mais de 80% das usinas do Chile são solares. No Uruguai, o vento é responsável pela mesma porcentagem de usinas. A Argentina tem uma distribuição mais equilibrada, com 60% de eólicas e 40% solares. Estes três países têm visto um grande impulso para as energias renováveis nos últimos anos, incluindo a inauguração de Cauchari, a maior usina solar da América Latina —  por enquanto.

O nordeste brasileiro está aparentemente no ápice de uma revolução solar, com sete projetos com capacidade instalada de 1GW ou mais, incluindo um grande grupo em Juazeiro, na Bahia, que tem condições climáticas ideais, e a maior, a planta da Aurora Energia, de 5700MW, em Matias Cardoso, em Pernambuco. Essas estão localizadas dentro do bioma da Caatinga.

86%

de financiamento para projetos eólicos e solares no Brasil vêm do setor privado

O capital privado também está liderando a transição das energias renováveis no Brasil, financiando 154, ou 86%, de todos os projetos. Apenas 8% do financiamento vêm de empresas estatais — brasileiras ou chinesas. A China é o único país estrangeiro a fornecer financiamento estatal a empresas que investem em projetos solares e eólicos acima de 50MW no Brasil. Na região amazônica, o Brasil não tem projetos deste porte.

O México tem uma grande concentração de parques eólicos no sul do estado de Oaxaca e a maioria dos parques estão localizados na península de Yucatán, na parte oriental do país. De acordo com o Atlas Solar Global, os projetos solares se baseiam no centro e norte do México, onde há alto potencial de longo prazo para a energia fotovoltaica. Apesar dos altos níveis de irradiação solar em estados como Sinaloa, não há plantas solares. Também não há projetos eólicos. Nesses estados, a governança é fraca, e a segurança gera preocupação.

A transição energética da região andina parece avançar mais lentamente do que outras sub-regiões latino-americanas. A Amazônia peruana tem apenas uma usina de energia renovável: a Usina Solar Fotovoltaica Atalaya, enquanto todas as outras estão localizadas na costa sul do país, no deserto que se estende até o Chile.

Com inauguração prevista para 2023, a Usina Geotérmica Laguna Colorada, de 100MW, será o maior projeto de energia renovável do país, gerando 50% dessa energia. Todos os projetos — operacionais ou em construção — estão nas mãos da ENDE, a empresa nacional de eletricidade da Bolívia.

A Colômbia tem 38 projetos em construção, mas apenas uma usina eólica operacional, na ponta norte de La Guajira. Já foram relatados conflitos com as comunidades indígenas sobre o desenvolvimento eólico na Colômbia, que deve expandir-se consideravelmente. Na fronteira com a Venezuela, uma usina representa o único projeto de energia não convencional em operação no país. O país obtém cerca de 70% de sua energia da usina hidrelétrica de Guri.

As Ilhas Galápagos do Equador se destacam em garantir todas as suas necessidades energéticas de projetos de energia eólica e solar.

Metas de energia renovável

É técnica e economicamente viável aumentar a escala da energia renovável na América Latina. Sob um cenário estabelecido pela Agência Internacional de Energia Renovável, no qual o sistema energético global garante o cumprimento do Acordo de Paris, 93% da eletricidade da região viria de energias renováveis em 2050.

Essa transição energética não só limparia a matriz, como também impulsionaria a economia. Um relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) do ano passado concluiu que a descarbonização gerará 15 milhões de novos empregos no total e 100 mil empregos adicionais em tempo integral no setor de eletricidade renovável até 2030, em comparação com as projeções baseadas nas tendências atuais.

Há muitas perguntas a serem respondidas em torno do aceno da China ao maior apoio às energias renováveis nas nações em desenvolvimento. Por exemplo, ainda não se sabe se o compromisso inclui a energia hidrelétrica. Para a América Latina, poderia representar uma oportunidade de capitalizar a disponibilidade de novos financiamentos que lhe permitam alcançar seus objetivos de descarbonização.

Dados compilados por Emilio Godoy, Damián Profeta, Jorge Chávez, Sarita Reed e Vinícius Henrique Fontana, com o apoio de Robert Soutar, Fermín Koop, Alejandra Cuéllar, Jack Lo, Lívia Machado Costa e Flávia Milhorance. Mapa desenhado por Julia Janicki.