Clima & energia

Membros do G20 isolam Trump e declaram que acordo de Paris é “irreversível”

“Isso significa que Donald Trump está isolado."
<p>O presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente argentino, Manuel Macri, no G20 (imagem:<a href="https://www.flickr.com/photos/g20argentina/32247589428/in/photolist-2ayTkum-Pzj4Pv-2ayTkJ9-2dkt8oa-2ayTmvj-Pzj5jZ-2dkt8dv-2dkt9fF-2ayTmYd-RcEMB5-Pzj4w6-2ayTm2o-Pzj44H-2dkt7i4-2ayTmDf-2ayTmho-2ayTmNU-2ayTjjA-RcEMtQ-2bWP5dT-23mLCM1-DKxq92-R8BjRb-WsxNji-2eNCMWV-2eJowSu-24cwWWx">G20 Argentina</a>)</p>

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente argentino, Manuel Macri, no G20 (imagem:G20 Argentina)

Dezenove membros do G20, o grupo das 20 principais economias industrializadas e emergentes, reafirmaram seu compromisso com o acordo climático de Paris, isolando os Estados Unidos. O país norte-americano também foi o único a ficar de fora de um plano de ação inédito no qual o grupo delineou os passos para a implementação do acordo e o avanço de uma transição energética mundial. As brigas mais acaloradas sobre a questão climática aconteceram durante a reunião de dois dias realizada pelo grupo em Hamburgo, que acabou ofuscada por conflitos violentos entre polícia e manifestantes.

A chanceler alemã Angela Merkel afirmou que a reunião de cúpula expôs claramente a discordância entre os Estados Unidos e os demais membros do G20 na questão da proteção climática, definindo como “lamentável” a rejeição americana ao consenso internacional. Merkel disse estar “feliz” que todos os outros estados tenham reafirmado seus compromissos com o acordo de Paris, assinado por 195 países em 2015.

chanceler alemã definiu a proteção climática internacional como prioridade do mandato da Alemanha à frente do G20, um mês após o presidente americano Donald Trump rejeitar a importância da questão e anunciar oficialmente que os Estados Unidos abandonariam o acordo histórico.

Ambientalistas e ONGs aplaudiram Merkel por ter mantido os outros 19 países a bordo da iniciativa, criticando, ao mesmo tempo, a falta de avanços em ações concretas para a redução das emissões de carbono. “A reunião do G20 transmitiu um sinal importante de que 19 membros estão unidos em seu apoio ao acordo climático de Paris e querem avançar com sua implementação”, disse Jörn Kalinski, diretor de campanhas da organização Oxfam Germany. “Isso significa que Donald Trump está isolado.”

Menção controversa aos combustíveis fósseis

Enquanto o comunicado final do G20 menciona a “decisão dos Estados Unidos da América de se retirarem do Acordo de Paris”, o documento também afirma que “os outros membros do G20” consideram o acordo “irreversível” e confirmam seu “forte compromisso” em conseguir sua “rápida implementação”. Os Estados Unidos, por outro lado, “encerrariam imediatamente a implementação de suas atuais contribuições nacionais pretendidas” para os objetivos do acordo, diz a declaração final do grupo.

No entanto, o comunicado também inclui uma declaração conjunta de todos os membros do G20, a favor da “redução das emissões de gases do efeito estufa”, promoção de eficiência energética e investimentos “em tecnologias energéticas sustentáveis e limpas”, em linha com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, da ONU. Na mesma linha, todos os membros, com exceção dos Estados Unidos, endossaram o Plano de Ação sobre Clima e Energia para o Crescimento, elaborado pela presidência alemã.

Os 20 países foram capazes de encontrar posicionamentos comuns quanto aos outros tópicos oficiais da reunião, entre eles livre comércio, finanças internacionais e combate ao terrorismo, mas a discordância sobre a questão climática persistiu até o final.  As nações europeias e os BRICS – grupo que inclui grandes economias emergentes como China, Rússia e Índia – declararam seu apoio oficial ao acordo de Paris antes mesmo da divulgação do comunicado final.

A porção contenciosa da agenda foi debatida intensamente pelos negociadores até os momentos finais da reunião, de acordo com uma declaração dada por oficiais da UE à agência de notícias Reuters. A divergência de posicionamento ficou especialmente acirrada quando os Estados Unidos pediram a inclusão de um parágrafo dizendo que o país “trabalharia estreitamente com outros parceiros para ajudá-los a acessar e utilizar os combustíveis fósseis de maneira mais limpa e eficiente.”

A redução progressiva e o eventual abandono do uso de carvão mineral e outras fontes fósseis de energia são amplamente considerados como pré-requisitos para o cumprimento das metas de redução de emissões delineadas pelo acordo de Paris. Ao final, a frase controversa foi mantida no comunicado, mas Merkel reiterou que ela era apoiada apenas pelos Estados Unidos.

Plano de ação inédito

Originalmente, a Alemanha havia apresentado uma proposta ambiciosa e inédita para um plano de ação conjunta sobre clima e energia, o qual acabou “desidratado” durante o processo das negociações do G20.

Agora, o plano inclui a formalização de um compromisso com a transição energética mundial até 2050, elaborando estratégias climáticas de longo prazo, ajudando os países mais pobres a lidarem com as mudanças climáticas e estabelecendo as métricas para quantificar o cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris em cada país.

A decisão de Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris gerou dúvidas se um plano como esse poderia realmente ser negociado e aceito na esfera do G20.

Quando todos os membros do grupo, exceto um, endossaram o plano de ação e confirmaram o comprometimento com os objetivos de Paris, evitou-se um “efeito dominó” de desistências do acordo em Hamburgo, disse Jennifer Morgan, diretora do Greenpeace, ao portal Clean Energy Wire. “Está claro que todos os outros países querem continuar com [as metas de] Paris”, ela disse, acrescentando que “a presidência alemã ajudou a fazer isso acontecer”.

No entanto, disse Morgan, a Alemanha poderia ter aumentado a credibilidade do seu compromisso com a proteção climática anunciando um cronograma claro para o abandono do carvão, o maior fator contribuinte para as emissões de gases do efeito estufa no país. “Nós esperávamos mais”, ela afirmou.

Christoph Bals, presidente da ONG ambiental Germanwatch, disse também que a Alemanha precisava ter feito mais do que apenas promover a proteção do clima em âmbito internacional. “Você não pode pedir a descarbonização internacional e recusar-se a elaborar um plano para abandonar o carvão, deixando de atender seus próprios objetivos nacionais”, ele afirmou. Além disso, o setor de transportes alemão, cujas emissões têm permanecido essencialmente estagnadas desde 1990, precisaria ser transformado rapidamente, Bals argumentou.

Ele afirma que foi um bom sinal os outros países não terem copiado a posição dos Estados Unidos na reunião de cúpula, algo que estava longe de ser certeza há poucas semanas. Bals argumenta que o alinhamento entre a grande maioria dos membros do G20 melhora a probabilidade de sucesso da conferência climática da ONU a ser realizada em Bonn em novembro desse ano.

“As chances da COP23 produzir um conjunto comum de regras aumentaram”, ele afirmou. O mais importante da reunião do G20 foi todos os países – inclusive a Alemanha – terem delineado como pretendem implementar os objetivos de Paris. “Completou-se apenas metade do Teste Trump”, disse Bals.

Este artigo foi publicado originalmente pelo portal Clean Energy Wire