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1º Fórum China-CELAC: grande encontro ou oportunidade perdida?

O primeiro encontro entre líderes chineses e latino-americanos resultou em cooperação no comércio e na indústria, mas são esperados acordos sobre petróleo e gás.

Durante o 1º Fórum da China com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) ficou definida a cooperação nas áreas de comércio, investimento e indústria. O encontro, no entanto, parece ter sido conduzido para um acerto sobre petróleo e gás, mas do que, inclusive, energia renovável como esperado, segundo disseram analistas afirmando que o fórum foi grande em retórica e  pequeno em decisões.

A declaração da China de que os investimentos na América Latina vão mais que dobrar no próximos 10 anos foi o que de mais tangível aconteceu no encontro entre o presidente da China, Xi Jinping e líderes da América Latina que se deslocaram até Pequim, durante essa semana. A expectativa, no entanto, é a que talvez essa relação se estreite mais no decorrer deste ano.

1,3%


crescimento do comércio entre a China e a América Latina nos primeiros 11 meses de 2014

“Um mais um é maior do que dois”, afirmou Xi durante a reunião.

O presidente chinês disse que o volume de negócios entre os dois mercados deve alcançar US$500 bilhões, nos próximos 10 anos. O interesse da China na América Latina é voltado para o petróleo, gás, minerais e produtos agrícolas. Agora, no entanto, a China passa a ter influência política na região tida até recentemente como o quintal dos Estados Unidos.

O comércio da China com a América Latina cresceu apenas 1,3% nos 11 primeiros meses de 2014 se comparado ao mesmo período do ano anterior, tendo alcançado US$25 bilhões. Mas, do outro lado do Pacífico, líderes querem incrementar esse comércio e desenvolver laços econômicos e diplomáticos fortes.

Participaram dos dois dias de reunião, quatro chefes de Governo e 20 Ministros de Relações Exteriores dos 33 países membros da CELAC, além de representantes de organismos internacionais.

Um dos documentos resultantes do fórum estabeleceu a cooperação, para os próximos cinco anos, nas áreas de segurança, comércio, investimento, infraestrutura, energia, indústria, agricultura, ciência e troca de tecnologia, cultura e educação.

Tendo assumido o compromisso de reduzir as emissões de carbono durante a Reunião de Cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), em novembro de 2014, os analistas tinham a expectativa de que a China aproveitasse o fórum para anunciar tecnologias de baixo carbono para América Latina.

Enquanto um acordo desse tipo pode vir nos próximos anos, os sinais dessa semana deixaram claro que a China está inicialmente interessada nos recursos como petróleo e gás que pode extrair de países como Brasil, Colômbia, Equador, México, Peru e Venezuela.

China aproveitou queda da influência dos USA na América Latina

Para Rhys Jenkins, professor de economia internacional da Universidade de East Anglia, do Reino Unido, esse fórum não muda muito a relação entre as partes.

“Para mim, esses US$500 bilhões na próxima década é bastante conservador uma vez que o comércio entre a China e a América Latina cresceu mais de 10 vezes na última década”.

A China é um credor com bolsos fundos e algumas condições. As Nações da América Latina e do Caribe ocasionalmente favorecem os financiamentos chineses ao invés de outras Instituições Financeiras Internacionais

Diversificar os fornecedores de petróleo continua sendo um objetivo importante para a China e um acordo cria oportunidades na região para empresas de construção chinesas, acrescenta.

Da perspectiva chinesa, estreitar relações com a América Latina faz todo sentido, particularmente aquelas regiões que estão crescendo economicamente e deixando de lado a influência norte-americana, aponta Wu Guoping, especialista em Assuntos Latino Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais.

O fórum também demonstrou como a os financiamentos chineses estão estreitando as relações entre a China e alguns países da América Latina.

“A China é um credor com bolsos fundos e algumas condições. As Nações da América Latina e do Caribe ocasionalmente favorecem os financiamentos chineses ao invés de outras Instituições Financeiras Internacionais (IFI) por causa desse leque de condições”, afirma Margaret Myers, Diretora do Programa de China e América Latina na Inter-American Dialogue.

Com algumas poucas alternativas de crédito, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro,assegurou US$20 bilhões em troca de petróleo em Pequim, apenas uma das etapas da viagem que incluiu uma parada na Rússia, antes de ir ao Irã e outras nações da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

Enquanto isso, Rafael Correa, presidente do Equador, solicitou mais empréstimos alegando a necessidade de mitigar a crise climática. Algo sobre o qual Myers é especialmente cética.

“É difícil levar a sério especialmente esse anúncio já que as empresas nacionais chinesas de petróleo e o Equador colaboram para a exploração em um dos lugares de maior biodiversidade do planeta”, criticou.

Para Guy Edwards, Co-Diretor do Clima e Desenvolvimento Lab na Brown Universidade, a época do fórum foi ideal porque aconteceu logo após a realização da Conferência Mundial do Clima das Nações Unidas, ocorrida em Lima (Peru), em dezembro de 2014.

“Parece que o clima, o meio ambiente e o baixo carbono não foram temas devidamente tratados em Pequim. Pudemos ver o quão desconectados os debates sobre as mudanças climáticas estão das pessoas que decidem tanto na América Latina quanto na China. E essas pessoas são as responsáveis pelo desenvolvimento da relação entre as partes”, espanta-se ele.

“Apesar de a gente ainda estar por ver o novo Plano de Cooperação China-América Latina 2015-2019, o Fórum parece ter sido uma perda de oportunidade para promover uma agenda de baixo carbono”, disse.