Comércio & Investimento

OPINIÃO: China é necessidade, não opção

Maurício Santoro explica as oportunidades que o presidente Bolsonaro deve aproveitar em sua primeira visita à China
<p>O presidente Bolsonaro durante recepção ao presidente da chinês, Xi Jinping (Imagem: <a href="https://www.flickr.com/photos/palaciodoplanalto/48142568836/in/photostream/">Alan Santos/PR</a>)</p>

O presidente Bolsonaro durante recepção ao presidente da chinês, Xi Jinping (Imagem: Alan Santos/PR)

Manter boas relações com a China é uma necessidade para o Brasil, não uma escolha. A primeira viagem do presidente Jair Bolsonaro ao país é excelente oportunidade de ajustar sua diplomacia com relação ao maior parceiro comercial brasileiro. Embora tenha abandonado a retórica agressiva contra os chineses que teve durante a campanha eleitoral, declarações conflituosas de autoridades de seu governo confundem os interlocutores do país na China e criam obstáculos a negócios e investimentos.

$100bilhões


o valor do comércio bilateral entre Brasil e China no ano passado (US$)

O comércio bilateral foi cerca de 100 bilhões de dólares em 2018 e o estoque de investimentos chineses no Brasil é estimado em quase 60 bilhões de dólares. São números expressivos e que tem crescido em meio à guerra comercial entre Pequim e Washington, na medida em que os chineses têm comparado mais produtos agrícolas brasileiros, em substituição aos americanos.

Contudo, causa apreensão na China a indefinição das autoridades brasileiras com relação à participação de suas empresas no leilão do padrão 5G de Internet – o vice-presidente afirma que não acontecerá nenhum tipo de veto, o ministro das Relações Exteriores diz que o tema ainda está em estudo.

Há também preocupações sobre eventuais restrições a estatais chinesas que queiram investir em infraestrutura no Brasil ou no programa de privatizações – tais limitações se tornaram frequentes nos Estados Unidos no governo Donald Trump, que Bolsonaro sempre cita como seu modelo.

As tensões entre China e Estados Unidos na América Latina cresceram com a decisão chinesa de incluir a região na Nova Rota da Seda, seu projeto global de investimentos em infraestrutura. Dezenove dos 33 países latino-americanos aderiram à iniciativa, sobretudo as pequenas nações da América Central e do Caribe. O governo do Brasil manifesta cautela com a ideia, afirmando que deseja os recursos da China, mas por meio do Programa de Parcerias em Investimento.

Há boa expectativa em Pequim com a viagem de Bolsonaro e predomina entre governo e empresários chineses a percepção de que o Brasil saberá identificar os interesses nacionais de longo prazo que o vinculam à China. A continuidade da parceria estratégica entre ambos os países é fundamental para que a economia brasileira possa voltar a crescer e supere a grave crise que marca a década atual.