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Empresa brasileira envolvida em corrupção é parceira da China

JBS exporta carne in natura para a China e tem escritório em solo chinês
<p>Equipe que investiga corrupção no Brasil (imagem: <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Devolu%C3%A7%C3%A3o_simb%C3%B3lica-2015_05_11.jpg" target="_blank" rel="noopener">José Cruz/ABr </a>)</p>

Equipe que investiga corrupção no Brasil (imagem: José Cruz/ABr )

O empresário brasileiro Joesley Batista, um dos dois irmãos donos da JBS, uma das maiores processadoras de carne do mundo com receita líquida de US$ 57 bilhões/ano, surgiu como uma peça chave nesse longo escândalo de corrupção que agora está engolindo o atual presidente do Brasil, Michel Temer.

Com 14 milhões de desempregados, atravessando a pior recessão de sua história e uma queda acumulada do Produto Interno Bruto per capita de 9,1% de 2014 a 2016, o Brasil passa também por uma séria crise política. Com denúncias de corrupção e prisões de 198 políticos, empresários e funcionários públicos, a chamada Operação Lava-Jato – que descobriu um esquema de superfaturamento em contratos da estatal de óleo e gás Petrobras com empreiteiras para pagar subornos e ganhar licitações – já levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e agora pode derrubar o atual presidente Michel Temer.

A peça chave dos atuais problemas do presidente Temer é o empresário Joesley Batista. Com 45 anos e segundo grau incompleto, Joesley Batista trabalha desde os 14 anos ajudando o pai José Batista Sobrinho na fazenda e no açougue no interior de Goiás, no centro-oeste do país. Não só ele, mas seus outros dois irmãos. Em 1970, o pai abriu o primeiro frigorífico que, até hoje, é uma das marcas da holding J&F, a Friboi. O perdão de uma dívida tributária com o governo do Estado de Goiás teria dado o primeiro salto nos negócios dos Batista.

O segundo teria vindo no governo do ex-presidente Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, quando um grande número de empréstimos teria sido concedido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Na delação que fez, o dono da JBS revelou aos promotores que negociava propinas diretamente com Guido Mantega, ministro da Fazenda dos governos dos ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff, não só a mesada de ambos como também a compra do apoio de partidos políticos a seus respectivos governos.

Por iniciativa própria, Batista marcou um encontro com Temer e conseguiu gravar secretamente sua conversa com o primeiro mandatário. Com traços de filme de James Bond, o dono da JBS entrou na residência oficial com nome fictício, encontrou Temer no porão do Palácio e, com um aparelho escondido, gravou toda a conversa que teve com o chefe de Estado.

Nela, Batista acertou com o presidente da República a intermediação do governo junto a um órgão público para favorecimento da JBS. Quando o empresário perguntou quem deveria ser seu interlocutor no governo daí em diante para resolver o problema, o presidente indicou um de seus mais próximo auxiliares: Rodrigo Rocha Loures. “Posso falar tudo com ele”, conferiu o empresário na conversa gravada em abril com Temer ao que o presidente respondeu: “Tudo”.

O deputado federal Rodrigo Rocha Loures foi preso no último sábado por corrupção. O parlamentar foi filmado pela Polícia Federal saltitante com uma mala cheia de dinheiro, primeira parcela do suborno de US$ 155 mil acertados com a JBS que receberia mensalmente, por 30 anos, para “facilitar” a liberação de um processo junto a um órgão federal para uma termelétrica do grupo.

A filmagem do auxiliar do presidente da República já fazia parte da delação premiada acertada pelos irmãos Joesley e Wesley Batista com a Procuradoria Geral da República (PGR). Ao tomar a iniciativa de gravar a conversa com Temer e procurar as autoridades para entregar a gravação, Batista pretendia conseguir a absolvição dos vários crimes cometidos durante os mais de 20 anos em que está à frente da empresa. Batista e sua família se mudaram para Nova York (EUA) e negocia o pagamento de uma multa de US$ 3,7 bilhões para ressarcir os cofres públicos.

Enquanto isso, o atual presidente e ex vice da presidente cassada Dilma Rousseff está na corda-bamba. São quatro as alternativas para sua saída: sua renúncia; a anulação da eleição presidencial de 2014 em que ele era vice; seu impeachment ou a Procuradoria Geral da República denunciá-lo para o Supremo Tribunal Federal por considerar ter provas suficientes para incriminá-lo. De acordo com a Constituição, nos três primeiros casos, haveria votação indireta feita pelo Parlamento até que ocorram eleições diretas marcadas para 2018. No último caso, o presidente seria substituído pelo presidente da Câmara dos Deputados até as eleições do ano que vem.

A JBS é uma velha conhecida dos chineses. Dos US$ 13,9 bilhões exportados pela empresa no ano passado, 20,1% foram para China. No ano anterior, embora o percentual tenha sido menor – 17,6% – o valor das exportações foi superior: US$ 15,4 bilhões. A empresa exporta aves, suínos e carne bovina in natura para a China. Além de exportar carne para os chineses, a JBS tem escritórios comerciais da JBS Couros em Dongguan e Hong Kong. A empresa produz e exporta couro para os setores automotivo, moveleiro e de calçado. A companhia diz que prioriza agregar valor a seu produto investindo em tecnologia, padronizando procedimento e qualidade.