Florestas

As principais reportagens do Diálogo Chino em 2020

Das contínuas ameaças à Amazônia ao tráfico de animais selvagens, passando pela transição energética da América Latina, a pandemia não foi a única história de 2020
<p>ilustração: Eréndira Derbez</p>

ilustração: Eréndira Derbez

A história da pandemia dominou 2020 como nenhuma outra em décadas. Mas, mesmo que a doença tenha causado transformações profundas por todos os cantos do mundo, outras histórias importantes sobre a China, a América Latina e o meio ambiente mereceram uma cobertura abrangente durante o ano passado. O mundo não parou de girar.

Da contínua devastação da Amazônia ao tráfico de animais selvagens, passando pela transição energética da América Latina, os editores da Dialogo Chino compartilham suas reportagens preferidas dos últimos 12 meses.

Manuela Andreoni, editora de Brasil: O turbulento processo de habilitação de frigoríficos de carne para a China

amazon meatpackerNo auge de mais uma temporada de incêndios na Amazônia, especialistas nos alertaram incansavelmente sobre como o crescente consumo de carne bovina brasileira por parte da China exerceu enorme pressão sobre as taxas de desmatamento. Ao mesmo tempo, notamos que o número de frigoríficos na região amazônica licenciados para exportar para a China estava crescendo. Mas por que a China aprovou frigoríficos na Amazônia em vez de privilegiar regiões produtoras de carne menos controversas no Brasil? Os especialistas que consultamos não sabiam a resposta para esta pergunta, então decidimos investigar nós mesmos. O resultado foi uma das nossas reportagens mais lidas deste ano.

Fermín Koop, editor do Cone Sul: Ônibus elétricos chineses começam a circular em toda a América LatinaChinese electric buses in Montevideo, Uruguay

Este foi o ano em que os ônibus elétricos chineses finalmente se tornaram populares na América Latina. No Diálogo Chino, temos acompanhado de perto sua expansão ao longo dos anos, especialmente depois que a capital chilena Santiago deu o primeiro passo e eletrificou a maior parte de sua frota. Mas agora dezenas de outras cidades seguiram o exemplo, tais como Montevidéu, Cali e Bogotá. Ainda assim, os desafios permanecem. Quase 2 mil ônibus eletrônicos já estão funcionando hoje nas ruas da América Latina, mas representam menos de 1% de todos aqueles atualmente em funcionamento na região. A pandemia pode representar um obstáculo em sua expansão, mas iniciativas como a parceria ZEBRA estão tentando assegurar financiamento para manter o ímpeto.

Jiang Yifan, editor sénior: Chile abre as portas para nova constituição verde

Chile plebiscite new constitution celebrationQuarenta anos depois, o Chile novamente faz história. O berço da primeira constituição mundial que consagra a ideologia neoliberal, que coloca a propriedade privada e “o mercado” acima de tudo, não só a suprimiu, mas agora está aberto substituí-la por um documento ecológico que valoriza o bem comum. Esta é sem dúvida uma das notícias mais encorajadoras em um ano sombrio marcado pela pandemia e por metas ambientais perdidas. A reportagem começa com a impressionante revelação de que os círculos eleitorais mais ávidos por mudanças constitucionais são exatamente aqueles que mais atingidos conflitos ambientais em curso. Esta história serve como poderoso lembrete de que o meio ambiente é frequentemente o bem comum mais sacrificado por essa velha ideologia. A busca por uma constituição ecológica no Chile sugere que a humanidade está aprendendo a abraçar novos valores políticos.

Robert Soutar, chefe de redação: Lições da China sobre a vida em confinamento

COVID-19 lockdown cookingEm janeiro, quando a Covid-19 era uma mera epidemia, o público internacional assistiu aos cidadãos de Wuhan suportarem restrições draconianas a suas vidas com uma sensação de desapego. Até o nosso calo apertar. A temida chegada da pandemia em outras partes do mundo forçou todos a algum tipo de isolamento, mais ou menos restritivo. O cansaço já nos tomou há muito tempo. Mas aqueles de nós que tiveram a sorte de ter sobrevivido a 2020 com tempo e recursos emocionais para refletir sobre tudo isso o fizeram de forma profunda. Os esforços de Alejandra em alcançar os cidadãos chineses, enquanto a América Latina se tornava a região mais atingida pela Covid-19, trouxe histórias humanas que não haviam sido contadas antes, belamente ilustradas e – com dicas sobre como lidar com elas – um senso de solidariedade. Muitos revisaram atitudes em relação à saúde, consumo animal e nossa relação com a natureza. Suas histórias nos possibilitaram olhar com um pouco mais de distanciamento para o nosso trabalho cotidiano no que tem sido tudo menos um ano qualquer.

Alejandra Cuéllar, editora do México e da América Central: Pac-man, a onça-pintada que denunciou traficantes chineses no México

jaguar traffickingPac-man foi uma das 115 onças-pintadas que vagaram pela área protegida natural de Yaxchilán, no estado mexicano de Chiapas. Embora seja raro vê-las, uma câmera escondida testemunhou Pac-man e uma onça-pintada fêmea em uma cena noturna em janeiro de 2019. Mais tarde, os guardas do parque o encontraram a 35 metros das margens do rio Usumacinta completamente desmembrado – um traço distintivo dos caçadores que traficam presas, garras, cabeças e genitais para países estrangeiros. Cobrimos amplamente o tráfico de espécies animais e vegetais da América Latina para a China. As partes de onça-pintada que são especialmente cobiçadas por alguns membros da elite chinesa podem chegar a 20 mil dólares. A história de Pac-man foi particularmente marcante porque colocou um nome e um rosto para o animal, uma raridade para as histórias de tráfico. Estamos trabalhando para descobrir mais conexões entre a América Latina e a China e as rotas e incentivos dos traficantes, mas também, em última instância, para entender como suas ações impactam a biodiversidade da América Latina.

Andrés Bermúdez Liévano, editor da Região Andina: Um mapa das usinas termoelétricas da América Latina

Enquanto os países latino-americanos embarcam numa transição energética, não há reflexão o suficiente sobre quantas usinas elétricas alimentadas por combustíveis fósseis a região ainda tem – e em alguns casos ainda está construindo. Mapeamos mais de 500 instalações desse tipo em toda a América Latina e no Caribe, num esforço para identificar aquelas que eventualmente terão que ser fechadas ou convertidas a fim de cumprir as metas de redução de emissões e evitar os piores cenários climáticos. Nosso banco de dados, único em toda a região, mapeia o que os especialistas em financiamento climático e planejamento energético denominaram como “ativos encalhados” potenciais.